segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

As Crianças Também se Fartam de Sofrer

Hoje soubemos que um menino que costumávamos encontrar no hospital morreu. Não vamos encontrar mais o J. nem a mãe B. Dói-me tanto o coração e dói-me a mente. Cansada, não consigo desligar e dormir. O J  já estava internado da última vez que lá estivémos. Jantei uma vez com a mãe dele. Parecia-me triste e mais perturbada que o habitual. Só me apetecia dar-lhe um abraço, mas também senti que ela precisava de espaço e tempo para ela. As mães sofrem demais a ver-vos sofrer demais. O J saira de uma enfermaria que partilhava com o Pedro de Angola porque tinha muitas dores (disse-me a mãe) e não conseguia descansar com as sonoridades rítmicas do vizinho. Estranhei, mas não refutei nem questionei ninguém. Respeitei e calei, mas uma bola já me estreitava a garganta. Ouvi as palavras dor e morfina e estremeci. As crianças também se cansam de sofrer. O J frágil e neutropénico apanhou três bactérias das mais agressivas no pulmão e passou estás duas semanas nos cuidados intensivos. Chamarão o pessoal para se despedir dele. De Sexta-feira para Sábado deixou de sofrer. Soube hoje.

O J foi diagnosticado com 2 anos tal como tu e tinha a mesma doença que tu, mas correu mal desde o início disse-me logo a mãe quando a conheci, ainda com força, coragem e fé. Apanhou bactérias e infecções de catéter vários. Teve de usar saco para as necessidades e já andava nisto há pelo menos 4 anos (se bem que me parece que ele já tinha feito os 7 anos, por isso faz as contas).

Quando o comecei a ver no hospital de dia o João trazia a pele pálida e uma expressão de gente crescida de quem já passou por muito mas trazia um brilho no olhar e um sorriso no rosto. Falava com gosto da escola e de aprender, sendo q a única escola que alguma vez conhecera era a do hospital. Nos últimos meses já não era assim. De pagines nos ouvidos, mal levantava o rosto do tablet, pouco falava e só com a mãe. Já não o vi mais a comer fruta mas batatas fritas (da embalagem redonda). O J parecia cansado e triste.

Não te canses, por favor, meu amor. Luta com força e resiliência. Que o teu fardo não seja tão pesado que não o possas carregar. Eu vou cá estar enquanto precisares de mim para te ajudar conforme eu puder e e souber e tu me deixares. Eu amo-te muito, minha Pimentinha. Tanto, mas tanto! Amo, mesmo.



 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Mudanças em Tempo de Natal

 Todas as mudanças trazem ansiedades. Hoje foi feriado, dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Foi um dia cinzento que trouxe consigo muitos chuviscos. Como o tempo também eu me senti cinzenta. Preocupada, ansiosa, sem compreender muito bem o que se passava, se havia de ficar contente ou triste. Também eu chuviscava, que é como quem diz, lacrimejei muitas vezes. Tu sorriste, desesperaste-me, cansaste-me, brincaste, cansaste-te, dançaste, viste cacás, correste pela casa, choraste quando entalaste o dedo na porta, pediste miminho e mêmê, disseste purple e red e blue, e Qyica (Rita), adormeceste quando eu achava que não tinhas sono e ficaste acordada quando parecias cheia de sono (só tu para te rires, saltares e brincares quando estás mal-disposta...), cantaste e vieste dar-me um beijinho e um abracinho tão doce, pediste-me colo, pefiste chão e.... Comeste! Sim hoje, como ontem comeste, mas mais um bocadinho. Na verdade não tinhas outro remédio. Na noite de quarta-para quinta-feira, quando te tentava dar a papa (depois de 30 ml a sonda explodiu! Já à tarde, enquanto te dava o lanche, eu reparei que estava a fazer um papo, aí uns 5 cm abaixo da ponta, mas depois de limpar e se aliviasse a pressão debaixo de ti, o líquido passava e não parecia haver grande problema. Quando fui a ver o rasgão no tubo devia ter peloenos 1cm. Fomos as duas para a sala para o tentar arranjar. Procurei o adesivo, a tesoura e uma luva. Colei e tornei a colar adesivo e depôs peguei na seringa da água e experimentei, mas não deu. Saia água, ainda por cima parecia estar fora do sítio. 2ª tentativa. Descolei adesivo, pûs um dedo cortado de uma luva e mais adesivo e pediste p vir dormir. Trouxe e material e viemos. Adormeceste bem (pudera, já era muito tarde), testei e água. Não dá. 3ª tentativa: cola quente sem luva que só achei na 3ª ida ao quarto da avó Tina. Não deu. Melhor, mas um pouquinho de água ainda. 4ª tentativa: cola quente mais luva. Melhor, mas de um dos lados parecia ainda haver vestígios na zona ponta da cola mais grossa. 5ª tentativa. Aumentei a zona da cola e suavizei as bordas. Finalmente. Ainda sem certezas, mas parecia dar. Acabei de te dar a paia (muito mais fluida e deitei-me. Passava das 4 da manhã e contei peloenos mais de uma hora antes de adormecer. Estava muito nervosa. Nervos miúdos e grossas e chorei e afligi-me e stressei. Na manhã seguinte o papa ligou p o Hospital e falou com a Dra. Sónia. Vamos tirar a sonda. Fazer uma experiência terapêutica. Se não resultar de todo vêm cá, de outra forma falamos segunda-feira. Sem stress. Tudo se resolve... E nós: pânico, alegria, tristeza, dúvidas, muitas dúvidas, mas tu entendeste. 1° que o tubinhos não dá (hoje também disseste uinho -tubinho), depois que íamos tjrar e tinhas de comer mnhã, mnhãm na boquinha. Não tem (e apontas para as costas). Comeste almoço um pouquinho de açorda e línguas de gato e M&Ms. Bebeste. Do sumo q havia em casa. À tarde fomos ao supermercado (de máscara, não vá o Diabo tecê-las...). Compramos sumos e bolachas e ovos de chocolate, e comeste à tarde e só jantar e antes de deitar. Não foi muito, mas comeste mais iogurte com bolacha. Sem bolacha não !  Hoje ao almoço não quiseste açorda, mas comeste douradinho e pão e línguas de gato e sumos. Ao lanche comeste fruta da mamã. Sim conseguiste.  perguntei se querias fruta da mamã. Disseste que sim. Ficaste com o papá enquanto a mamã foi fazer. Banana, pêra, maçã e papa, e comeste tudo!!! Ficámos felizes, mas tão felizes! Ao jantar comeste pouco, mas sempre foi açorda e pão e línguas de gato e sumo. Na ceia foi iogurte com bolacha e nova fruta da mamã (desta vez maçã, pêra, manga, papa), mas pouca, e pão e línguas de gato. Amanhã é outro dia e não faço ideia o que se vai resolver segunda-feira, mas acho que não precisamos de ir a correr para Coimbra ré-colocar a sonda. Obrigada por seres assim, minha princesa guerreira,  minha Pimentinha linda!

Amo-te muito, minha  Pimentinha, que nos surpreende sempre. Amo-te muito é espero que nos surpreendas sempre, assim, pela positiva. Pela tua resiliência, pela tua capacidade de lutar, superar obstáculos e vencer. Amo-te muito, mesmo, minha Pimentinha!







terça-feira, 21 de novembro de 2017

E outra vez

Pois é, estamos a dormir no "hotel" outra vez! Queria tanto escrever quando estivesses bem! Mas parece que esses dias são tão curtos e não chegam para nada. Andavas constipada há já um mês (aliás, constipaste-te logo na semana a seguir a irmos para casa), mas como os valores estavam bons lá te ias aguentando. Fizeste febre nessa altura, viemos de urgência a Coimbra, mas assim como veio passou e as hemoculturas estavam negativas, por isso era esperar que passasse (ou não). Assim, na quarta-feira da semana passada, fizeste febre novamente. Ligámos e o Doutor Brito instruí-nos que nos mantivéssemos em casa e q ligássemos no dia seguinte. Estiveste, nessa noite logo 11 horas sem febre e a Dra. Sónia avisou-nos, se espaçar mais ou mantiver ligam caso contrário vêm. Viémos. Novas análises, resultados negativos. Antibiótico oral e voltámos a casa. Passaste o resto da sexta-feira e o Sábado sem febre, mas deste uma queda feia enquanto brincavas e fechavas a porta à avó. Fiquei a tremer. Tinhas cortado o lábio por dentro e tinhas a boca cheia de sangue. Eu nem sou nada medricas com estas coisas normalmente, mas a tua situação não é nada normal...
Domingo fizeste um pico de febre m. Uma coisa aparentemente isolada e tão fugaz que pareceu impossível. 38ºC antes de te darmos paracetamol e a sopa, 37,1ª depois da sopa...
Segunda-feira parecias bem (tirando à noite inquieta e mal dormida). Sem febre. 
Estavas a mêmê cheia de sono e senti-te muito quente. Fomos chamadas pela enfermeira. 38,4º. Não há tratamento... esperamos um par de horas e fomos chamados pelo Dr. os valores estavam a descer. Hoje não vão para casa. Do que será? Da constipação! 
Duas horas depois do paracetamol, mudámos-te a fralda. Começaste a tremer. Oh não q vem lá mais um pico. Num instante chegaste aos 38º. Ibuprofeno. Antibiótico a cada seis horas. Subimos, tu sempre muito bem disposta. 14 horas sem febre e de repente às 4 da manhã 39,5º! Hoje foi febre a cada seis horas. Agora vais em sete. Vamos lá a ver se te aguentas! 
Ontem subimos com a enfermeira Manuela, durante a noite foi o enf. Ricardo, de manhã a enf. Sofia, à tarde a Joana E. e agora o enf. João Pedro.

Amo-te muito, minha Pimentinha! Põe-te boa! Quero ver-te sorrir e fazer marotices!

Amo-te. Minha Pimentinha!




terça-feira, 3 de outubro de 2017

De volta, again!

Pois é, voltámos ao hospital. Não era para ser, mas foi. Viemos à nossa consulta de rotina das segundas-feiras com tratamento em vista, mas acabaste por nos trocar as voltas e dormimos aqui. Estivemos toda a manhã à espera que nós chamassem  para fazer análises (hoje não dormimos na Acreditar, dormimos em casa para experimentar!...) e quando nos chamaram já passava do meio-dia, o papá pegou em ti e achou-te muito quente. Eu também tinha achado a tua cabeça quentita, mas como tinhas dormido pouco e estavas com sono, pensei q eram as temperaturas todas trocadas... Fomos com a enfermeira, a médica também lá estava e viu-te mas nem desconfiou. Quando o termómetro apitou lá estava... 39ºC! Esperamos, dormiste um soninho, veio o Dr. ter connosco: vamos internar! É melhor ficar aqui dois ou três dias do que ir para casa, piorar e depois vir a correr. Não gostamos nada, mas  febre alta é febre alta. Lá te demos a sopa. Há cerca de duas semanas que não queres comer. Seria virose, seria da quimio... Eu também tive uma noite em que me senti indisposta, talvez de ter bebido àgua deitada e da posição e cheguei mesmo a vomitar um pouquinho...
A enf. Graça trouxe-nos ao 2º piso e fomos recebidos pelo enf. João Rafael. Ficamos instaladas no mesmo quarto da outra vez, o quarto 2. Não tínhamos chegado há muito (passava pouco das 17:00) e comecei a sentir-te quente.  num instante estavas com 38,9º. Chiça Que foi mesmo melhor ficares cá! A temperatura cedeu rapidamente e estiveste bem-disposta, a brincar, ver cacás na TV, ver livros, fazer um puzzle..veio a hora de jantar e não quiseste comer nada novamente, mas estava na  hora e demos-te a sopa, ainda não tínhamos dado a água e oops! Veio tudo fora. A sopa e a sonda! 
Ficaste um pouco aflita de te veres suja a ti e ao chão. Só repetias... "Tão, tão!" Tiramos-te a roupa, o adesivo da sonda (a enf. Catarina foi muito mueiguinha), as meias e os sapatos. Vieram limpar e fazer a cama. A crise passou, mas lá veio a febre. Querias mêmê, mas... Faltava sonda. Fomos ao espelho ver a tua carinha linda sem adesivos nem tubos, conversamos sobre mnham-mnham. Saudades de agarrar nas tuas duas bochechas ao mesmo tempo... A enf. Dulce lá veio com a enf. Catarina. Choraste, não te querias deitar. Foi complicado pôr a sonda. Choravas e vomitavas secreções. Depois de se conseguir, demos-te muito miminho, maminha e uma frutinha. Ficamos com medo que vomitasses novamente mas aguentaste. Tinhas soninho, querias dormir. O papá foi embora, as enfermeiras também. Finalmente podias relaxar. Há meia-noite vieram medir-te a tensão, mas lá ficaste a dormir. Quando olhei p o relógio eram 1:18. Procuravas a maminha e eu dei. Medi-te a temperatura estavas com 35,5.num quadro de febre pareceu-me demasiado baixo. Mamavas inquieta. Tentei relaxar e adormecer mas não consegui. Estava preocupada e também sentia o estômago pesado e azia da água que bebera. Quando finalmente decidi abrir os olhos e voltar a medir-te a temperatura eram 2:00 e estavas já com 38,9º! Irra que não aguentas 6 horas sem febre. Chamei a enfermeira. Dou-te paracetamol na sonda. Passados, talvez, 10 minutos, senti-te com vômitos, sentei-te na cama e toca a deitar fora leite e paracetamol. Toca a chamar. Veio a D. Paula e a enf. Manuela. Ficaste bem acordada e querias beber água! A D. Paula começou a tirar o lençol de baixo. E eu comecei a sentir-me mal. Contigo mos braços, faltavam-me as forças. Estavas ligada ao sensor, não me podia sentar. Tinha calafrios e sentia o estômago às voltas. Estavam no quarto a enf. Ana, a enf. Manuela e a D. Paula. Parecia demorar uma eternidade, mas não eu é q não tinha forças. Posei-te na cama, pedi-te desculpa e corri para a casa-de-banho. Será que tinha tempo de chegar? Lá consegui. Vomitei água e secreções. Nada de mais mas tinha de sair. Tomei um paracetamol e uma bolacha. A dor de cabeça não me largava... Bestimoste o pijama e Deitámo-nos. Acalmavas. O novo paracetamol intravenoso começou a sorrir efeito. Dormi até ás 7:10 quando já o sol clareava o dia e a enf. Ana veio medir-te a temperatura. 34,7º. Por ora tudo bem.
São agora dez da manhã. Estamos novamente com o enf. João. Ainda não tens febre mas os batimentos estão altos e a temperatura está a subir. O enf. veio cá fazer recolhas e de seguida será hora de paracetamol novamente. Espero que se acerte com o bicharoco rapidamente e com medicamento e que isto passe depressa. Tenho medo que isto complique o tratamento da doença e não convêm nada. Quero ver-te a crescer livre deste sítio linda e feliz. Não quero que estejas doente, não quero que fiques mais aqui. Põe-te boa, Amor! Luta contra o bicho, vence e vamos para casa! 
Amo-te muito minha Pimentinha, linda e dói-me o coração de te ver sofrer!


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

3:30 A.M.

São 3:30 da manhã e dormes a meu lado. Pela primeira vez (excepto quando estávamos no hospital e não era permitido), adormeceste sem estares a mamar. Não te sei dizer o que sinto, mas posso contar-te que ao aperceber-me que estavas de facto a adormecer as lágrimas gordas e quentes transbordavam do leito dos meus olhos e caiam cara abaixo. Eu sei que estã na hora, mas ainda assim ... Tinhas estado a mamar muito. Mas acho que o leite não te satisfazia, ou se calhar as maminhas não estavam a produzir o suficiente para a tua fome ou se calhar estavas mesmo sem sono, ou se calhar um pouco (ou muito) de cada...
Hoje fomos pela primeira vez ao hospital de Leiria para te administrarem o metotrexato intramuscular ;em Coimbra é através do catéter). Estava marcado para as 5:00 da tarde (bem na hora da tua sesta, bem na hora do lanche! Pus-te o EMLA para anestesias a pele por volta das 3:20, e pouco depois das 4:00 fomos para o hospital. Vimos a tia S. e subimos. Choraste um pouco, mas acho que foi mais por te deitarem do que pela dor. Dores tens tido tu muitas... Viemos para casa e fomos para a camita, já passava das 6:30, demoraste um pouco a adormecer. Estavas excitada, cheia de energia... O papá deu-te a papa e lá dormiste até pouco antes das 8:30 porque te acordei. O papá chegou a casa (tinha ido ao supermercado) e comentou que não te devia ter deixado dormir até tão tarde. Fiquei triste. Ainda momentos antes me estava a sentir tão bem por teres conseguido dormir a sesta sozinha e por eu ter conseguido ter o jantar bastante adiantado... Passaste muito bem o serão e quando finalmente tinham passado as 3 horas de pausa alimentar por causa da mercatopurina ofereci-te comida. Querias fruta, 2 colheres, já chega. Querias sumo, uns golinhos, já chega. Querias pão, um bocadinho já chega. Querias línguas de iáiá, 2 já chegam. Queres tudo e não consegues comer nada (e até te demos o Ondanestrom para o enjôo à tarde quando chegámos). Lá te convenceste a lavar os dentes (chegaste ao pé de mim com a escova na mão! -piolha linda!), a mudar-te a fralda e a vestir, sempre com muita energia, ao contrário do papá que estava cheio de sono. Mamaste de um lado, mamaste do outro e outra vez do mesmo lado e pediste papá. Fomos à cozinha (o papá a dormir e tu a falar, a cantar e a rir). Fiz a papa, não comeste, abri o pacote das línguas de gato,foi meia, quiseste tosta-mista, comeste um bocadinho e mandaste-me comer a mim. Comeste mais línguas de gato e decidiste vir dormir. Mamaste de um lado, mamaste de outro. E dormir nada, rias, brincavas, falavas. Levantei-me e fui arranjar-me. Já tinha estado quase a dormir e estava com medo de adormecer sem o conseguir fazer e já que estavas bem-disposta e não dormias... O papá nisto, despertou um pouco e voltou a comentar que não era por isto que não gostava que dormisses até tão tarde num tom de 'bem te avisei'.
Mamaste mais um pouco mas continuavas acordada. Finalmente decidi dar-te a papa pela sonda. Não gosto muito de o fazer quando estãs acordada, mas quis tentar ver se sentindo o estômago mais cheio adormecias. Comigo resulta (às vezes). Assim, mal acabei de te dar a papa, largaste a mêmê. Disseste: "àgua" (estava a encher a seringa da água), e depois, disseste: "mão". Ainda tentei q mamasses p adormeceres, mas disseste, não, mão. Pediste a minha não na tua cara e assim ficaste. E eu aqui estou agora. Sem conseguir dormir Com o coração aos saltos. Começa aqui e agora uma nova fase das nossas vidas? Talvez, sim, talvez não. Amanhã é outro dia. Mas por agora rolam mais lágrimas dos meus olhos, abertos e cansados mas sem vontade de se fecharem.

Amo-te muito minha Pimentinha, com ou sem mêmê...

quarta-feira, 26 de julho de 2017

...

Amo-te tanto que até dói.
Dormes ao meu lado, na nossa cama, no nosso quarto, na nossa casa, entre mim e o papá, agarrada ao meu braço e a única coisa que ouço é a tua respiraçào. Sinto-me triste porque neste momento não consigo ser tão filha como mãe  e dar o mesmo amor, o mesmo calor, o mesmo carinho que tu me dás a avó T. A
És corajosa, és forte, uma lutadora simpática e sorridente. És a minha luz neste quarto escuro e na vida.

Amo-te tanto, minha Pimentinha, que até dói

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Em casa

Finalmente!!! Finalmente em casa!!!!
Tivemos 2 mesesuito duros, mas finalmente estás em casa. Finalmente sorris! 
É certo que já cá tínhamos estado, mas não contou para descontar nos dois meses. Tiveste febre, estavas apática, letárgica, irreconecível. Das 2 vezes nem 24h cá ficámos. A febre não cedia, não estávas bem. Voltámos mais cedo que o previsto. Da primeira vez voltámos ao internamento, da 2ª o Dr. B.  tinha uma proposta p nós. Ficar na casa Acreditr e ir ao hospital todos os dias tomar o antibiótico endovenoso. Nós ficámos logo bem contentes. Podíamos dormir sem máquinas, sem luzes, sem apitos, sem vizinhos, sem enfermeiros que vêm, que mexem e que passam e que mandam levantar e tomar banho, quando tu queres é dormir. Sem medo que os doutores venham e te encontram a dormir ou pior a mamar. Sem auxiliares que querem fazer a cama ou menina que precisam de limpar. Descansada. Com o papá e com a mamã. Só!
O trato com doutor implicava outra coisa... Ganhar peso. E para isso toca a aumentar a dose pela sonda, toca a experimentar pela boca, toca a acordar à noite para uma dose extra. Coitado do papá. A meio da noite, lá se põe a pé ao toque do despertador para te dar uma dose extra de papa ou iogurte. Sexta-feira estávamos todos contentes. A aposta valeu a pena. Ganhaste peso, estávas melhor, já não tinhas febre. Podémos vir a casa no fim-de-semana. Deixámos-te dormir a sesta primeiro. Arranjámos só um saco e pusémo-nos a caminho. Mas mesmo antes de sair, lembrei-me de preparar uma tosta mista. apeteceu-me. Lembrei-me de como sabia bem quando o avô L nos preparava uma tosta no fim das aulas. Gostaste do cheiro quiseste experimentar... Resumindo, só comi côdeas! Tu deste cabo dela toda. Ficámos tão contentes! Mas tão contentes mesmo q até chorei. Aliás tenho chorado muitas vezes esta semana. Mas não são lágrimas tristes. São lágrimas de emoção, lágrimas de alegria pura ao ver cada conquista tua. Cada evolução, cada melhoria, cada.l sorriso, cada... Espera, não quero pôr a carroça à frente dos bois... Comeste aquela tosta e tens comido todos os dias. Fiz açorda, comeste, fiz massa, comeste, guardei no frigorífico o que sobrou...  Sorriste, fizémos cucu, pedias p pôr o chapéu e ir à rua, laváste os dentes, dormiste e relaxaste. Desta vez gostáste de estar em casa. Foi muito bom! 
Voltámos à Acreditar no Domingo porque segunda era novamente dia de colheitas e dia de pesagem (medo!). Será que tinhas aumentado? Será que os valores estávamos bons? E aquelas peles nas mãos? Sim, sim, e do tratamento. O Dr. Gostou do que viu. Estávas mais calma, com o olhar mais vivo e pesavás novamente 9,275kg. Sem soro, sem fórmulas nocturnas em débito continuo... Só com a sopinha e as comidinhas da mamã e a nossa papa de sempre agora feita com leite, como no hospital... Tive o sonho de que pudesses chegar aos 3 anos sem outro leite que não o meu... Isso não aconteceu. Quando dei por ela já estava. Ninguém me perguntou nada, ninguém me consultou, ninguém se preocupou. Mas sabes, agora também já isso não tem importância nenhuma. O que importa é que fiques saudável. O resto não importa nada... 
Enquanto estávamos no hospital chegou a comida dos outros meninos. Quiseste comer mas não tinhas direito porque não ias fazer tratamento. O papá foi buscar a massa e tu? Comeste. E brincaste. E disseste iá-iá e ão-ão (ou melhor hm-hm) e tô-tô e eu chorei. 
Por tudo isso o Dr. B. deixou-nos vir a casa a semana TODA! Com uma condição: telefonar-lhe na quinta-feira com notícias do peso. Assim fizémos. De manhã levantámo-nos, arranjámos-nos e comemos e lá fomos ao centro de saúde.9,610kg! Boa! 
Ainda choramingaste quando me viste a falar mais de 1 minuto com a Dra. AB de bata branca e depois com a enfermeira, mas quando depois de te pesarmos e  medirmos te deixar ver os cacás Angry Birds  que lá havia, percebeste que realmente já estava e que podíamos vir embora, que o perigo tinha passado... E sorriste e acalmaste... E pronto. 
Desde que estás em casa já vês cacás com gosto na TV, no tablete e no telemóvel, já vês livros, já dizes quase tudo que dizias. Já viste as babás e o vovô, mais a tia L. e o primo P. já antecipas quando ligam. Já viste a tia, o tio e os primos pelo telemóvel. Já apontas, já mandas, já desenhas e já ris, já brincas com os legos e com as chavénas que a avó L. trouxe e com os bebés.já ris, já pulas e já bates palmas, já cantas e já tocas viola. Já dás miminhos, fazes meiguinha e dás beijinhos doces. Tão doces... Ainda te custa muito andar, beber água, continuas rouca e ainda não consegues dormir mais de 5 minutos sem mim. Melhor, hoje já conseguiste dormir 5 minutos sem mim! Iupi!!!! Hás-de conseguir, só vai dormir mais um pouco... 
Amo-te muito minha Pimentinha. Esta viagem tem sido atribulada, mas estou onde quero. Ao teu lado!


domingo, 7 de maio de 2017

Não fazemos nada dela

Tem de lhe tirar que mama ou não fazemos nada dela. Happy f**king Mother's Day!!!!  Eu tirei-lhe o cobertor, mas a mãe voltou-lho a pôr e veio deitar-se ao pé dela e agora ela tem febre. Foi com o som destas palavras que acordei hoje. Happy f** king Mother's Day!! Como deves advinhar ainda aqui estamos. No mesmo quarto, na mesma cama de hospital e como percebeste estou muito irritada, chateada e até zangada! 
É muito bom acordar ao som de a culpa da febre é tua. Pois. F***, f***, f***. Sabes q eu não sou de asneirar mas não me apetece dizer outra coisa q não isto. Não se faz. Não se faz. Ó enfermeiro, não tenho culpa se não dormiste. Não tenho culpa se estás aqui hoje. Vai-te lixar q eu tb não dormi o suficiente e já não durmo o suficiente há muito tempo. Vai-te lixar porque eu não mereço isto. Vai-te lixar porque eu tb estou cansada e ñ me posso dar ao luxo de ter insónias e dores de cabeça e se tenho de acordar todos os dias com um sorriso na cara. vai-te lixar se não percebes que do outro lado do meu sorriso há um lago imenso de lágrimas à espera de serem choradas porque agora não pode ser. Um mar interior que só não inunda tudo por ti e pelos nossos que nós amam mais que tudo. Amo-te tanto meu amor. Não é justo querem tirar-te o único conforto que tens. O teu sítio seguro. A tua paz. O calor, o peito da tua mãe. Eles vivem isto todos os dias, tal como nós. Mas não é como nós que vivem isto todos os dias. Não é do colo deles que atrancam os filhos para cometer atrocidades. Não é do colo deles que atrancam os filhos e os torturam com agulhas e seringas e pensos e máquinas a apitar e termómetros e estetoscópios e batas e máscaras e luvas. Não é do colo deles que arrancam os filhos a chorar. É do meu colo que te arrancam. É do meu peito. E ainda tenho de ter forças para te segurar e te mudar uma fralda cheia de chichi ou cocó com um cheiro nauseabundo a químicos que se entranham nas minhas narinas e te queimam as entranhas. E ainda tenho de ter forças para te segurar contra a tua vontade (e a minha também) e enfiar-te uma seringa de xarope na boca. E ainda tenho de ter forças para pedir ajuda e olhá-los nos olhos, e olhar-te nos olhos, e dizer-te desculpa amor, mas tem de ser é para tirar o au-au da cabeça. E ainda tenho de ter forças para te agarrar e ver-te sofrer e espernear e enfiarem-te uma seringa cheia de um xarope doce e peganhento que detestas e não compreendes pela boca adentro e taparem-te o nariz e apertarem-te as bochechas. Não é nos colos deles que os filhos se contorcem e debatem e gritam roucamente e desesperadamente porque lhes foi retirado o seu único conforto. Não é no colo deles que tudo se passa. E arranhas o enfermeiro. Como arranhas a mãe, como arranhas o pai. Seguraste com todas as tuas forças ao te pequeno ser. Querem quebrar-te o espírito, domar-te, tirar-te o que resta do teu espírito livre, lindo e feliz. Querem que te roube o quebrará ti e para mim é mais sagrado. Querem que te separe e te afaste e te retire a pequena réstea de felicidade que ainda te conforta. Querem deixar-nos sem chão. Mas eles não sabem que já perdemos o chão e isto é só o que nos resta. Não são eles que vêem os próprios filhos definhar e tornarem-se como cascas de ovos frágeis e quase transparentes das crianças q costumavam ser. Não são os filhos deles que quase não reconhecem. Quietos, mudos, com um olhar vago perdido e triste. Não são os filhos deles. Não é o sangue do seu sangue nem a carne da sua carne. Não são os filhos deles que ao soltarem um único sorriso uma semana inteira te dá lenha para manter a sua fogueira, para dar combustível para mais uma semana neste tanque que anda na reserva há já muito tempo. Não são os filhos deles que são acordados do seu sono pela sua própria urina mal-cheirosa que os queima por dentro e por fora. Não são os filhos deles a quem cada pútrido cocó martiriza e rasga a pele e deixa feridas que não saram apesar de estarem continuamente a limpar e lavar. Não são os filhos deles. Infelizmente és tu. Felizmente não são os filhos deles. Não desejo este tratamento cruel nem estas doenças barbáras a ninguém nem aos filhos de ninguém. Felizmente não são os filhos deles. Infelizmente és tu. És tu que gemes e gabes e tremes e choras com cada chichi, com cada dejecção que não passa de um "pum com molho". E é a ti que eu tenho de confortar e acalmar e limpar. Ai e o que ainda te dói limpar e não queres deixar porque dói. E viras-te e desviras-te e seguras as calças e não queres. E é a ti que eu seguro e viro e desviro e te deito à força e é és tu que choras e sou eu que choro. E é
O meu colo que te dou e o meu peito que te ofereço e hei-de oferecer. Não deixo que to tirem. Não deixo não. Hás-de o ter sempre que precisares e quiseres neste processo. Um dia isto vai passar e a mama também. Mas não aqui. Não hoje nem agora. Quando isto passar e já não quiseres e já não precisares. Não agora. Agora não. Eu não deixo. O meu papel é proteger-te e dar-te tudo o amor e alimentar-te e vestir-te e proteger-te. Se não te pùde proteger da doença nem dos efeitos desta cura cruel, dar-te-ei o meu conforto e o meu peito sim. Não deixo que te domem nem quebrem o teu  espírito. Juntas somos fortes e no meu colo, no meu peito vamos ultrapassar isto já já. Essa felicidade não te tiram. Vozes de burro não chegam ao céu. Não nos demovem. Não nos quebram. 
A doença está em remissão, sabias? Este post devia ser sobre isso. Já sabemos há dois dias. É a melhor notícia que poderíamos ter. Quase ou já não há mesmo células alteradas no teu corpo. Agora é produzir células boas. O que demora um pouco. Temos é de ter paciência e de continuar o tratamento para não haver recaídas. O teu chichi vai continuar a cheirar a químicos e o teu cocó a queimar-te a pele. A saliva vai continuar a cair-te da boca e a garganta a doer-te. E tens de comer e só queres pão e pouco. E tens de tomar os xaropes e não queres. Mas queres ir a casa e ver as tuas e as nossas coisas e para isso tens de deixar de ter febre e comer e tomar os xaropes. As tuas defesas têm de subir e tens de ficar mais forte. Mama, mama, meu amor e come.
E luta. E cresce e não pares de te tornar a menina forte, corajosa e independente que estavas a tornar-te. Come e cresce e chama mamã a dormir e diz que não a dormir e procura a mama a dormir. Dá-me sinais de força e de vida para encher este tanque que vai em reserva há muito tempo. AMo-te muito, minha Pimentinha. Mas tanto, tanto, tanto...
Dorme. Guarda as tuas forças que eu estou aqui para velar o teu sono. Come. Para sairmos daqui. Mama para seres feliz, pelo menos um pouquinho todos os dias.

E ainda temos de ter forças p cantar os parabéns ao papá. Parabéns meu amor mais crescido. Hoje há-de ser um dia feliz. 

Amo-te muito, muito, muito minha Pimentinha!

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Hell on Earth

Bem-vinda ao nosso próprio inferno. Este vai ser um post longo que vou demorar vários dias a escrever. É duro escrever isto e descrever estes dias duros. Muito duros e para todos nós, e claro, muito especialmente para ti. Nunca ninguém supõe, imagina ou sequer sonha que uma coisas destas pode acontecer com um filho. És tão pequenina e já a sofrer tanto! O teu pai diz não é justo, não é justo. Pois não, não é, não é, não é, não é! Muitas vezes é aos justos e mais frágeis que acontecem as coisas mais injustas. Num dia virou-se  a nossa vida do avesso. Num único e singelo dia, que não começou como todos os outros e muito menos acabou da mesma forma. 
Ainda não escrevi sobre o teu baptizado. Tenho de o fazer. Foi um dia lindo e feliz. Cheio de Paz, Amor e Bênçãos. Foi um dia grande repleto de coisas boas.
O Baptizado pareceu levantar o véu ao que se escondia, latente por baixo da pele. Ao mal que rastejava pelas tuas veias. À coisa ruim que atropelava outros à nossa volta. A Avó T. e o seu debilitante síndroma vertiginoso, a Bivó e a infecção na perna que não havia meio de deixar de doer, a avó L e a queda aparatosa na casa-de-banho no baptizado do priminho F. com direito a costela partida e mão inchada que demorou muito a curar, a queda ainda mais espectacular (no mau sentido) da tia L na Torreira apenas uma semana depois que abriu o joelho, partiu o braço e raspou o nariz e cara. Passaste muito tempo a "falar" disso. Sempre que te referias a ela dizias "babá" e apontavas para o nariz/testa. A avó ficou no Curval a tomar conta da Snow e da tia L.
Parece que a tempestade se aproximava cada vez mais, e nós, absolutamente impassíveis perante tudo. Era hora de preparar a festa de aniversário e depois era hora de preparar o Santo Baptismo. E roupas e capas e velas e convites e restaurante e envelopes... Nada fazia antever que a tempestade afinal era um furacão e que os dias bonitos não for senão uma aparente acalmia.
Bastou uns dias após o batismo para se desenrolarem uma data de pequenos episódios que levaram à entrada no Inferno.
A segunda-feira foi tão semelhante a tantas outras com a excepção de que a avó T, a madrinha e o padrinho I ainda estavam lá em casa. A avó ficou o resto da semana, eles partiam. O dia correu benzinho. Comeste, dormiste e brincaste como habitualmente. Terça-feira veio e foi e a quarta-feira seguiu-se mas trouxe com ela sintomas de constipação. Muita rabujice e o nariz entupido. Não chegaste a ter febre. Mas estavas doentinha e não querias comer. Dormiste em cima de mim como costumas quando estás doente. Eu pensava, malditos dos brinquedos do restaurante que levaste à boca! Ai! E o primo que estava doente! Vais-me ficar doente! A quinta-feira foi quase igual. Tínhamos marcado com a enfermeira L. mas desmarquei. Ainda estavas muito constipadinha e rabugenta. Saímos um bocadinho mas cansavas-te com muita facilidade, querias colo. Brincaste com as pedrinhas do estacionamento perto do condomínio, puseste as mãos nos bolsos como o padrinho I, fomos ver o cão e os gatos do vizinho e voltámos para casa. Estavas cansada, fomos dormir a sesta. Ao jantar pouco comeste. Sexta-feira estavas um pouco melhor. Achava-te um pouco pálida e com olheiras, mas andavas doentita. O nariz menos entupido, começavas a querer brincar um pouco mais, ficaste em casa com a avó enquanto eu e o papá fomos comprar a prenda de aniversário dela. Podíamos ir, como combinado, almoçar  à terra da avó T. para festejar o aniversário dela, do padrinho I e estar com o tio A, tia L, T e Hélder, mais a madrinha, claro. No restaurante, no Sábado, fizeste cocó. Achei-te estranha, com pouca energia. Depois em casa do tio A e da tia L (íamos cantar os parabéns a avó T) outra vez, e mais tarde outra vez e outra vez. 4 vezes não é normal... 

E A noite foi muito má. Estiveste sempre muito inquieta. Mamaste muito. Nunca estavas bem. Ora de um lado ora de outro, mas sempre muito inquieta. Eram oito da manhã e deste em vomitar. Nada do que tinhas comido ao jantar, só leite. Vomitavas e dormias, e vomitavas e dormias. Só ao meio-dia acordaste mesmo e paraste de vomitar. Mais dois cocós bem molinhos e enviámos mensagem à Pediatra. Devias estar com gastroenterite. Também me parecia. Não fizeste mais cocós nem vomitaste, mas parecia continuares com cólicas. Comeste arroz. À noite voltámos para casa. Parecias um pouco melhor. 
Segunda-feira, pelo sim, pelo não, o papá marcou com a pediatra. Estavas assim e tínhamos a consulta dos 2 anos atrasada. Havia vaga a meio da tarde e o papá veio buscar-nos. Quando chegámos ao consultório brincaste um pouquinho, mas com menos vontade que o costume. Quando entrámos no gabinete a doutora mostrou os cacás não te apeteceu chamá-los. Achou-te muito pálida. Auscultou-te, apalpou-te, mediu-te e pesou-te. Mas estavas muito pálida mesmo, preocupa-me. Vamos fazer análises. Tentei afastar pensamentos ruins da minha cabeça. Onde fazer? A que horas? Vou ter de tirar a minha menina da cama... Ai que vai ser um stress, mas nem quero mesmo pensar porque é que tenho de fazer isto. Não quero não... Trocamos de carro. Fomos ao centro de saúde perguntar da credencial para as análises, íamos ao laboratório das análises perguntar como fazer, se dava para fazer já. Adormeceste no carro. Paciência. Amanhã também é dia.Ao jantar pouco comeste e fomos dormir. A noite correu sem grandes sobressaltos eu é que cozinhava uma bela dor de cabeça e sem comprimidos em casa. O papá perguntou-me se queria que fosse comprar. Disse-lhe que não. Compraria no dia seguinte quando saísse para as análises.
Terça-feira, faz hoje quinze dias, acordaste estranhamente por volta das 8:40 a.m. pensei... Já que acordámos vamos é lá já. Dormimos novamente quando chegarmos a casa. 
Vesti-te, vesti-me e peguei num sumo, na mochila, nas bolachas, mais a dor de cabeça e bora lá. Estacionamento à porta, receita (credencial fica para depois), e-mail da doutora. E-mail da mamã, 44€ e esperar. Estava tudo diferente! Mandaram-nos entrar para o consultório bonito, com cacás, três enfermeiras analisavam-te os braços à procura de veias. Lá encontraram. Portaste-te muito bem. Só choraste um pouquinho quando recolhiam o sangue. Deram-te um balão. Fomos à farmácia perto de casa, comprei paracetamol e voltámos a casa. Ainda podias dormir 2 horas antes do papá vir almoçar. E eu também depois de tomar o comprimido e ver se melhorava. O papá chegou a casa, a doutora E já ligara, devolvi a chamada. A terra tremeu, o céu estremeceu, as nuvens escureceram tudo à minha volta. AAAAIIIIII, AAAAIIIIII, AAAAIIIIIII! Não quero, não quero, não. Já está a ligar. Não pode ser coisa boa não... Ai eu tremo, ai eu ouço, ai eu tenho de contar ao papá. Já tenho os resultados. Não enviaram ainda para si, queria falar eu primeiro. Ai que me faltam as forças. Anemia grave. Pediátrico de Coimbra. Dr. João. Dra. Joana. JÁ! Repetir exames. Para ficar. AAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIII! Não acredito. Tenho de contar. Amor, era a Dra. E. más notícias. Temos de ir para Coimbra. Quando? Agora, depois de comer. E temos de fazer mala.  É para ficar. 
Faz hoje duas semanas. Escrevo-te da cama do hospital contigo a dormir nos meus braços e a chamar roucamente mamã... Estás na mêmê porque dormes. Acordada quase sempre dizes não. Tens muitas secreções, baba, ranhoca, dói-te a garganta e a boca está cheia de úlceras, engasgas-te e custa-te a engolir. Amo-te muito, minha Pimentinha e dói muito, mas muito, muito mesmo ver-te sofrer.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Glossário aos (quase) 23 Meses

Mêmê: mamita
Mimi: mamita (menos frequente); coelhinha-anjo
Cau-cau-cau: qua, qua, qua; pato
Caco: pato
Iá-iá-iá: gato
Hi-Hi-Hi: rato
Mêê: menina, menino, Minie, Amélia
Mii: Minie 
Cácá: animal, fotos, desenhos animados, vídeos...
Táqui; está aqui
Otá?: onde está?
No-no: nariz (nose)
Knee-knee: joelho (in English!)
Ni-ni: sino/sininho
Tá-tá: já está; luzes (incluindo as de Natal!)
Ntá: não está
Cá-cá: anda cá
He-he-he:: macaco
Rrar: bicho, leão, urso
Pê-pê-pê: Panda
Pi-pi-pi: Pinky, panda
Pipi: pintainho, passarinho
Mua (beijinho mesmo): Anselmo, beijinho
Mamã (com várias entoações): mamã; senhora, carros vermelhos, tudo o que pertence à mamã ou é parecido com as minhas coisas.
Papá: papá; senhor, guitarra, cerveja S. B., calças de ganga, botas D. M., carros alemães da M. ou cinzentos, e tudo o que pertence ao papá!
Babá (às vezes seguida de um risinho): vovó, vovô
Abee: avó; avô
Beicinho choroso (não é uma palavra mas não sei qual a onomatopeia certa para isto...): bebé chorão; eu estava a chorar, aquele bebé chora/chorou
Jêjê: carro, avião, viatura, meio de transporte
Cocó: galo; galinha
Au-au: lobo
Au: ferida, dói-dói
Hm-hm-hm (sem usar os lábios, som da garganta): cão
Cu-cu-cu: rola, pombo
Fsh-fsh-fsh: peixinho; água a correr
Eh-Eh (espécie de risinho): porta-moedas da avó T.
Caui: água
Cacucucu.: água; copo; garrafa
Brê-brê(relinchar): cavalo
Ha-ha-ha (som de aspiração): burro, zebra, cavalos em desenho que pareçam burros, outros equídeos
Mnhã-mnhã: bolacha
Chchch: chichi
Moooo: vaca
Ahah: ovelha, cabra
Ti-ti-ti: piano
Tu-tu-tu ou tô-tô-tô: foguetes, fogo de artifício
Goool: golo - com verdadeiro entusiasmo! (o papá gosta de futebol e parece que tu também!)

Amo-te muito muito muito minha Pimentinha! Estás a ficar cada dia mais crescida e já te fazes entender muito bem. O que não dizes com som, dizes por gestos. Rita, Ritinha e bebé apontas para ti. Vestir, roupa, camisola, vestido mexes na camisola. Cslças olhas para as pernas e pés olhas para os pés e tocas neles. Já tentaste dizer, mas agora não te apetece. Sapatos e meias também sabes bem e a maior parte das vezes vais buscar um par para o mostrar. Banho, fazes o gesto de lavar a barriguita  e lavar a cabeça e mãos tambêm. Quando te perguntamos pelos olhos fecha-los e pedimos para piscar pisavas (pelo Natal até conseguias piscar só um, mas agora não te apetece). As partes do corpo compreendê-las em português e inglês: cabeça, head, olho, eye, nariz, nose, orelha, ear, boca, mouth, dente, teeth, língua, tongue, queixo, chin, braço e cotovelo, mão, hand, dedos, fingers and toes, pernoca, leg, umbigo e barriga, belly and belly button. As meias são   sempre para tirar dos pés. E o caminho é indicado de mão aberta e braço estendido.