segunda-feira, 17 de abril de 2017

Hell on Earth

Bem-vinda ao nosso próprio inferno. Este vai ser um post longo que vou demorar vários dias a escrever. É duro escrever isto e descrever estes dias duros. Muito duros e para todos nós, e claro, muito especialmente para ti. Nunca ninguém supõe, imagina ou sequer sonha que uma coisas destas pode acontecer com um filho. És tão pequenina e já a sofrer tanto! O teu pai diz não é justo, não é justo. Pois não, não é, não é, não é, não é! Muitas vezes é aos justos e mais frágeis que acontecem as coisas mais injustas. Num dia virou-se  a nossa vida do avesso. Num único e singelo dia, que não começou como todos os outros e muito menos acabou da mesma forma. 
Ainda não escrevi sobre o teu baptizado. Tenho de o fazer. Foi um dia lindo e feliz. Cheio de Paz, Amor e Bênçãos. Foi um dia grande repleto de coisas boas.
O Baptizado pareceu levantar o véu ao que se escondia, latente por baixo da pele. Ao mal que rastejava pelas tuas veias. À coisa ruim que atropelava outros à nossa volta. A Avó T. e o seu debilitante síndroma vertiginoso, a Bivó e a infecção na perna que não havia meio de deixar de doer, a avó L e a queda aparatosa na casa-de-banho no baptizado do priminho F. com direito a costela partida e mão inchada que demorou muito a curar, a queda ainda mais espectacular (no mau sentido) da tia L na Torreira apenas uma semana depois que abriu o joelho, partiu o braço e raspou o nariz e cara. Passaste muito tempo a "falar" disso. Sempre que te referias a ela dizias "babá" e apontavas para o nariz/testa. A avó ficou no Curval a tomar conta da Snow e da tia L.
Parece que a tempestade se aproximava cada vez mais, e nós, absolutamente impassíveis perante tudo. Era hora de preparar a festa de aniversário e depois era hora de preparar o Santo Baptismo. E roupas e capas e velas e convites e restaurante e envelopes... Nada fazia antever que a tempestade afinal era um furacão e que os dias bonitos não for senão uma aparente acalmia.
Bastou uns dias após o batismo para se desenrolarem uma data de pequenos episódios que levaram à entrada no Inferno.
A segunda-feira foi tão semelhante a tantas outras com a excepção de que a avó T, a madrinha e o padrinho I ainda estavam lá em casa. A avó ficou o resto da semana, eles partiam. O dia correu benzinho. Comeste, dormiste e brincaste como habitualmente. Terça-feira veio e foi e a quarta-feira seguiu-se mas trouxe com ela sintomas de constipação. Muita rabujice e o nariz entupido. Não chegaste a ter febre. Mas estavas doentinha e não querias comer. Dormiste em cima de mim como costumas quando estás doente. Eu pensava, malditos dos brinquedos do restaurante que levaste à boca! Ai! E o primo que estava doente! Vais-me ficar doente! A quinta-feira foi quase igual. Tínhamos marcado com a enfermeira L. mas desmarquei. Ainda estavas muito constipadinha e rabugenta. Saímos um bocadinho mas cansavas-te com muita facilidade, querias colo. Brincaste com as pedrinhas do estacionamento perto do condomínio, puseste as mãos nos bolsos como o padrinho I, fomos ver o cão e os gatos do vizinho e voltámos para casa. Estavas cansada, fomos dormir a sesta. Ao jantar pouco comeste. Sexta-feira estavas um pouco melhor. Achava-te um pouco pálida e com olheiras, mas andavas doentita. O nariz menos entupido, começavas a querer brincar um pouco mais, ficaste em casa com a avó enquanto eu e o papá fomos comprar a prenda de aniversário dela. Podíamos ir, como combinado, almoçar  à terra da avó T. para festejar o aniversário dela, do padrinho I e estar com o tio A, tia L, T e Hélder, mais a madrinha, claro. No restaurante, no Sábado, fizeste cocó. Achei-te estranha, com pouca energia. Depois em casa do tio A e da tia L (íamos cantar os parabéns a avó T) outra vez, e mais tarde outra vez e outra vez. 4 vezes não é normal... 

E A noite foi muito má. Estiveste sempre muito inquieta. Mamaste muito. Nunca estavas bem. Ora de um lado ora de outro, mas sempre muito inquieta. Eram oito da manhã e deste em vomitar. Nada do que tinhas comido ao jantar, só leite. Vomitavas e dormias, e vomitavas e dormias. Só ao meio-dia acordaste mesmo e paraste de vomitar. Mais dois cocós bem molinhos e enviámos mensagem à Pediatra. Devias estar com gastroenterite. Também me parecia. Não fizeste mais cocós nem vomitaste, mas parecia continuares com cólicas. Comeste arroz. À noite voltámos para casa. Parecias um pouco melhor. 
Segunda-feira, pelo sim, pelo não, o papá marcou com a pediatra. Estavas assim e tínhamos a consulta dos 2 anos atrasada. Havia vaga a meio da tarde e o papá veio buscar-nos. Quando chegámos ao consultório brincaste um pouquinho, mas com menos vontade que o costume. Quando entrámos no gabinete a doutora mostrou os cacás não te apeteceu chamá-los. Achou-te muito pálida. Auscultou-te, apalpou-te, mediu-te e pesou-te. Mas estavas muito pálida mesmo, preocupa-me. Vamos fazer análises. Tentei afastar pensamentos ruins da minha cabeça. Onde fazer? A que horas? Vou ter de tirar a minha menina da cama... Ai que vai ser um stress, mas nem quero mesmo pensar porque é que tenho de fazer isto. Não quero não... Trocamos de carro. Fomos ao centro de saúde perguntar da credencial para as análises, íamos ao laboratório das análises perguntar como fazer, se dava para fazer já. Adormeceste no carro. Paciência. Amanhã também é dia.Ao jantar pouco comeste e fomos dormir. A noite correu sem grandes sobressaltos eu é que cozinhava uma bela dor de cabeça e sem comprimidos em casa. O papá perguntou-me se queria que fosse comprar. Disse-lhe que não. Compraria no dia seguinte quando saísse para as análises.
Terça-feira, faz hoje quinze dias, acordaste estranhamente por volta das 8:40 a.m. pensei... Já que acordámos vamos é lá já. Dormimos novamente quando chegarmos a casa. 
Vesti-te, vesti-me e peguei num sumo, na mochila, nas bolachas, mais a dor de cabeça e bora lá. Estacionamento à porta, receita (credencial fica para depois), e-mail da doutora. E-mail da mamã, 44€ e esperar. Estava tudo diferente! Mandaram-nos entrar para o consultório bonito, com cacás, três enfermeiras analisavam-te os braços à procura de veias. Lá encontraram. Portaste-te muito bem. Só choraste um pouquinho quando recolhiam o sangue. Deram-te um balão. Fomos à farmácia perto de casa, comprei paracetamol e voltámos a casa. Ainda podias dormir 2 horas antes do papá vir almoçar. E eu também depois de tomar o comprimido e ver se melhorava. O papá chegou a casa, a doutora E já ligara, devolvi a chamada. A terra tremeu, o céu estremeceu, as nuvens escureceram tudo à minha volta. AAAAIIIIII, AAAAIIIIII, AAAAIIIIIII! Não quero, não quero, não. Já está a ligar. Não pode ser coisa boa não... Ai eu tremo, ai eu ouço, ai eu tenho de contar ao papá. Já tenho os resultados. Não enviaram ainda para si, queria falar eu primeiro. Ai que me faltam as forças. Anemia grave. Pediátrico de Coimbra. Dr. João. Dra. Joana. JÁ! Repetir exames. Para ficar. AAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIII! Não acredito. Tenho de contar. Amor, era a Dra. E. más notícias. Temos de ir para Coimbra. Quando? Agora, depois de comer. E temos de fazer mala.  É para ficar. 
Faz hoje duas semanas. Escrevo-te da cama do hospital contigo a dormir nos meus braços e a chamar roucamente mamã... Estás na mêmê porque dormes. Acordada quase sempre dizes não. Tens muitas secreções, baba, ranhoca, dói-te a garganta e a boca está cheia de úlceras, engasgas-te e custa-te a engolir. Amo-te muito, minha Pimentinha e dói muito, mas muito, muito mesmo ver-te sofrer.