segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

As Crianças Também se Fartam de Sofrer

Hoje soubemos que um menino que costumávamos encontrar no hospital morreu. Não vamos encontrar mais o J. nem a mãe B. Dói-me tanto o coração e dói-me a mente. Cansada, não consigo desligar e dormir. O J  já estava internado da última vez que lá estivémos. Jantei uma vez com a mãe dele. Parecia-me triste e mais perturbada que o habitual. Só me apetecia dar-lhe um abraço, mas também senti que ela precisava de espaço e tempo para ela. As mães sofrem demais a ver-vos sofrer demais. O J saira de uma enfermaria que partilhava com o Pedro de Angola porque tinha muitas dores (disse-me a mãe) e não conseguia descansar com as sonoridades rítmicas do vizinho. Estranhei, mas não refutei nem questionei ninguém. Respeitei e calei, mas uma bola já me estreitava a garganta. Ouvi as palavras dor e morfina e estremeci. As crianças também se cansam de sofrer. O J frágil e neutropénico apanhou três bactérias das mais agressivas no pulmão e passou estás duas semanas nos cuidados intensivos. Chamarão o pessoal para se despedir dele. De Sexta-feira para Sábado deixou de sofrer. Soube hoje.

O J foi diagnosticado com 2 anos tal como tu e tinha a mesma doença que tu, mas correu mal desde o início disse-me logo a mãe quando a conheci, ainda com força, coragem e fé. Apanhou bactérias e infecções de catéter vários. Teve de usar saco para as necessidades e já andava nisto há pelo menos 4 anos (se bem que me parece que ele já tinha feito os 7 anos, por isso faz as contas).

Quando o comecei a ver no hospital de dia o João trazia a pele pálida e uma expressão de gente crescida de quem já passou por muito mas trazia um brilho no olhar e um sorriso no rosto. Falava com gosto da escola e de aprender, sendo q a única escola que alguma vez conhecera era a do hospital. Nos últimos meses já não era assim. De pagines nos ouvidos, mal levantava o rosto do tablet, pouco falava e só com a mãe. Já não o vi mais a comer fruta mas batatas fritas (da embalagem redonda). O J parecia cansado e triste.

Não te canses, por favor, meu amor. Luta com força e resiliência. Que o teu fardo não seja tão pesado que não o possas carregar. Eu vou cá estar enquanto precisares de mim para te ajudar conforme eu puder e e souber e tu me deixares. Eu amo-te muito, minha Pimentinha. Tanto, mas tanto! Amo, mesmo.



 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Mudanças em Tempo de Natal

 Todas as mudanças trazem ansiedades. Hoje foi feriado, dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Foi um dia cinzento que trouxe consigo muitos chuviscos. Como o tempo também eu me senti cinzenta. Preocupada, ansiosa, sem compreender muito bem o que se passava, se havia de ficar contente ou triste. Também eu chuviscava, que é como quem diz, lacrimejei muitas vezes. Tu sorriste, desesperaste-me, cansaste-me, brincaste, cansaste-te, dançaste, viste cacás, correste pela casa, choraste quando entalaste o dedo na porta, pediste miminho e mêmê, disseste purple e red e blue, e Qyica (Rita), adormeceste quando eu achava que não tinhas sono e ficaste acordada quando parecias cheia de sono (só tu para te rires, saltares e brincares quando estás mal-disposta...), cantaste e vieste dar-me um beijinho e um abracinho tão doce, pediste-me colo, pefiste chão e.... Comeste! Sim hoje, como ontem comeste, mas mais um bocadinho. Na verdade não tinhas outro remédio. Na noite de quarta-para quinta-feira, quando te tentava dar a papa (depois de 30 ml a sonda explodiu! Já à tarde, enquanto te dava o lanche, eu reparei que estava a fazer um papo, aí uns 5 cm abaixo da ponta, mas depois de limpar e se aliviasse a pressão debaixo de ti, o líquido passava e não parecia haver grande problema. Quando fui a ver o rasgão no tubo devia ter peloenos 1cm. Fomos as duas para a sala para o tentar arranjar. Procurei o adesivo, a tesoura e uma luva. Colei e tornei a colar adesivo e depôs peguei na seringa da água e experimentei, mas não deu. Saia água, ainda por cima parecia estar fora do sítio. 2ª tentativa. Descolei adesivo, pûs um dedo cortado de uma luva e mais adesivo e pediste p vir dormir. Trouxe e material e viemos. Adormeceste bem (pudera, já era muito tarde), testei e água. Não dá. 3ª tentativa: cola quente sem luva que só achei na 3ª ida ao quarto da avó Tina. Não deu. Melhor, mas um pouquinho de água ainda. 4ª tentativa: cola quente mais luva. Melhor, mas de um dos lados parecia ainda haver vestígios na zona ponta da cola mais grossa. 5ª tentativa. Aumentei a zona da cola e suavizei as bordas. Finalmente. Ainda sem certezas, mas parecia dar. Acabei de te dar a paia (muito mais fluida e deitei-me. Passava das 4 da manhã e contei peloenos mais de uma hora antes de adormecer. Estava muito nervosa. Nervos miúdos e grossas e chorei e afligi-me e stressei. Na manhã seguinte o papa ligou p o Hospital e falou com a Dra. Sónia. Vamos tirar a sonda. Fazer uma experiência terapêutica. Se não resultar de todo vêm cá, de outra forma falamos segunda-feira. Sem stress. Tudo se resolve... E nós: pânico, alegria, tristeza, dúvidas, muitas dúvidas, mas tu entendeste. 1° que o tubinhos não dá (hoje também disseste uinho -tubinho), depois que íamos tjrar e tinhas de comer mnhã, mnhãm na boquinha. Não tem (e apontas para as costas). Comeste almoço um pouquinho de açorda e línguas de gato e M&Ms. Bebeste. Do sumo q havia em casa. À tarde fomos ao supermercado (de máscara, não vá o Diabo tecê-las...). Compramos sumos e bolachas e ovos de chocolate, e comeste à tarde e só jantar e antes de deitar. Não foi muito, mas comeste mais iogurte com bolacha. Sem bolacha não !  Hoje ao almoço não quiseste açorda, mas comeste douradinho e pão e línguas de gato e sumos. Ao lanche comeste fruta da mamã. Sim conseguiste.  perguntei se querias fruta da mamã. Disseste que sim. Ficaste com o papá enquanto a mamã foi fazer. Banana, pêra, maçã e papa, e comeste tudo!!! Ficámos felizes, mas tão felizes! Ao jantar comeste pouco, mas sempre foi açorda e pão e línguas de gato e sumo. Na ceia foi iogurte com bolacha e nova fruta da mamã (desta vez maçã, pêra, manga, papa), mas pouca, e pão e línguas de gato. Amanhã é outro dia e não faço ideia o que se vai resolver segunda-feira, mas acho que não precisamos de ir a correr para Coimbra ré-colocar a sonda. Obrigada por seres assim, minha princesa guerreira,  minha Pimentinha linda!

Amo-te muito, minha  Pimentinha, que nos surpreende sempre. Amo-te muito é espero que nos surpreendas sempre, assim, pela positiva. Pela tua resiliência, pela tua capacidade de lutar, superar obstáculos e vencer. Amo-te muito, mesmo, minha Pimentinha!