domingo, 7 de maio de 2017

Não fazemos nada dela

Tem de lhe tirar que mama ou não fazemos nada dela. Happy f**king Mother's Day!!!!  Eu tirei-lhe o cobertor, mas a mãe voltou-lho a pôr e veio deitar-se ao pé dela e agora ela tem febre. Foi com o som destas palavras que acordei hoje. Happy f** king Mother's Day!! Como deves advinhar ainda aqui estamos. No mesmo quarto, na mesma cama de hospital e como percebeste estou muito irritada, chateada e até zangada! 
É muito bom acordar ao som de a culpa da febre é tua. Pois. F***, f***, f***. Sabes q eu não sou de asneirar mas não me apetece dizer outra coisa q não isto. Não se faz. Não se faz. Ó enfermeiro, não tenho culpa se não dormiste. Não tenho culpa se estás aqui hoje. Vai-te lixar q eu tb não dormi o suficiente e já não durmo o suficiente há muito tempo. Vai-te lixar porque eu não mereço isto. Vai-te lixar porque eu tb estou cansada e ñ me posso dar ao luxo de ter insónias e dores de cabeça e se tenho de acordar todos os dias com um sorriso na cara. vai-te lixar se não percebes que do outro lado do meu sorriso há um lago imenso de lágrimas à espera de serem choradas porque agora não pode ser. Um mar interior que só não inunda tudo por ti e pelos nossos que nós amam mais que tudo. Amo-te tanto meu amor. Não é justo querem tirar-te o único conforto que tens. O teu sítio seguro. A tua paz. O calor, o peito da tua mãe. Eles vivem isto todos os dias, tal como nós. Mas não é como nós que vivem isto todos os dias. Não é do colo deles que atrancam os filhos para cometer atrocidades. Não é do colo deles que atrancam os filhos e os torturam com agulhas e seringas e pensos e máquinas a apitar e termómetros e estetoscópios e batas e máscaras e luvas. Não é do colo deles que arrancam os filhos a chorar. É do meu colo que te arrancam. É do meu peito. E ainda tenho de ter forças para te segurar e te mudar uma fralda cheia de chichi ou cocó com um cheiro nauseabundo a químicos que se entranham nas minhas narinas e te queimam as entranhas. E ainda tenho de ter forças para te segurar contra a tua vontade (e a minha também) e enfiar-te uma seringa de xarope na boca. E ainda tenho de ter forças para pedir ajuda e olhá-los nos olhos, e olhar-te nos olhos, e dizer-te desculpa amor, mas tem de ser é para tirar o au-au da cabeça. E ainda tenho de ter forças para te agarrar e ver-te sofrer e espernear e enfiarem-te uma seringa cheia de um xarope doce e peganhento que detestas e não compreendes pela boca adentro e taparem-te o nariz e apertarem-te as bochechas. Não é nos colos deles que os filhos se contorcem e debatem e gritam roucamente e desesperadamente porque lhes foi retirado o seu único conforto. Não é no colo deles que tudo se passa. E arranhas o enfermeiro. Como arranhas a mãe, como arranhas o pai. Seguraste com todas as tuas forças ao te pequeno ser. Querem quebrar-te o espírito, domar-te, tirar-te o que resta do teu espírito livre, lindo e feliz. Querem que te roube o quebrará ti e para mim é mais sagrado. Querem que te separe e te afaste e te retire a pequena réstea de felicidade que ainda te conforta. Querem deixar-nos sem chão. Mas eles não sabem que já perdemos o chão e isto é só o que nos resta. Não são eles que vêem os próprios filhos definhar e tornarem-se como cascas de ovos frágeis e quase transparentes das crianças q costumavam ser. Não são os filhos deles que quase não reconhecem. Quietos, mudos, com um olhar vago perdido e triste. Não são os filhos deles. Não é o sangue do seu sangue nem a carne da sua carne. Não são os filhos deles que ao soltarem um único sorriso uma semana inteira te dá lenha para manter a sua fogueira, para dar combustível para mais uma semana neste tanque que anda na reserva há já muito tempo. Não são os filhos deles que são acordados do seu sono pela sua própria urina mal-cheirosa que os queima por dentro e por fora. Não são os filhos deles a quem cada pútrido cocó martiriza e rasga a pele e deixa feridas que não saram apesar de estarem continuamente a limpar e lavar. Não são os filhos deles. Infelizmente és tu. Felizmente não são os filhos deles. Não desejo este tratamento cruel nem estas doenças barbáras a ninguém nem aos filhos de ninguém. Felizmente não são os filhos deles. Infelizmente és tu. És tu que gemes e gabes e tremes e choras com cada chichi, com cada dejecção que não passa de um "pum com molho". E é a ti que eu tenho de confortar e acalmar e limpar. Ai e o que ainda te dói limpar e não queres deixar porque dói. E viras-te e desviras-te e seguras as calças e não queres. E é a ti que eu seguro e viro e desviro e te deito à força e é és tu que choras e sou eu que choro. E é
O meu colo que te dou e o meu peito que te ofereço e hei-de oferecer. Não deixo que to tirem. Não deixo não. Hás-de o ter sempre que precisares e quiseres neste processo. Um dia isto vai passar e a mama também. Mas não aqui. Não hoje nem agora. Quando isto passar e já não quiseres e já não precisares. Não agora. Agora não. Eu não deixo. O meu papel é proteger-te e dar-te tudo o amor e alimentar-te e vestir-te e proteger-te. Se não te pùde proteger da doença nem dos efeitos desta cura cruel, dar-te-ei o meu conforto e o meu peito sim. Não deixo que te domem nem quebrem o teu  espírito. Juntas somos fortes e no meu colo, no meu peito vamos ultrapassar isto já já. Essa felicidade não te tiram. Vozes de burro não chegam ao céu. Não nos demovem. Não nos quebram. 
A doença está em remissão, sabias? Este post devia ser sobre isso. Já sabemos há dois dias. É a melhor notícia que poderíamos ter. Quase ou já não há mesmo células alteradas no teu corpo. Agora é produzir células boas. O que demora um pouco. Temos é de ter paciência e de continuar o tratamento para não haver recaídas. O teu chichi vai continuar a cheirar a químicos e o teu cocó a queimar-te a pele. A saliva vai continuar a cair-te da boca e a garganta a doer-te. E tens de comer e só queres pão e pouco. E tens de tomar os xaropes e não queres. Mas queres ir a casa e ver as tuas e as nossas coisas e para isso tens de deixar de ter febre e comer e tomar os xaropes. As tuas defesas têm de subir e tens de ficar mais forte. Mama, mama, meu amor e come.
E luta. E cresce e não pares de te tornar a menina forte, corajosa e independente que estavas a tornar-te. Come e cresce e chama mamã a dormir e diz que não a dormir e procura a mama a dormir. Dá-me sinais de força e de vida para encher este tanque que vai em reserva há muito tempo. AMo-te muito, minha Pimentinha. Mas tanto, tanto, tanto...
Dorme. Guarda as tuas forças que eu estou aqui para velar o teu sono. Come. Para sairmos daqui. Mama para seres feliz, pelo menos um pouquinho todos os dias.

E ainda temos de ter forças p cantar os parabéns ao papá. Parabéns meu amor mais crescido. Hoje há-de ser um dia feliz. 

Amo-te muito, muito, muito minha Pimentinha!