domingo, 29 de março de 2015

Novas aventuras

Há novas aventuras no mundo da Pimentinha. 
A Avó T. deixou-nos hoje. Vieram cá o tio Ab. e a tia I. e deram-lhe boleia. Foi para casa dela tomar conta da Snow (a gata meiguinha branca como a neve), das galinhas e da casa. Estamos quase na Páscoa e a Páscoa é muito importante para a Avó T. Vai o compasso lá a casa com a água benta, a cruz, o menino do sino e um senhor a fazer de padre a anunciar que Jesus já ressuscitou, aleluia. É preciso limpar a casa e o jardim, mudar as cortinas, cortar os verdes, fazer o altar, ir às confissões, à Via Sacra, ao Lava-Pés e à missa do Aleluia. A avó T. tambèm tem uma consulta no posto médico. Ficámos as duas um bocadinho tristes. Vai custar-lhe estar longe de nós, especialmente depois de tanto tempo a cuidar de nós. Agora vai estar sozinha e eu fico triste por ela. Vai passar a Páscoa e os anos dela sem nós e é difícil. Pelo menos a tia L. vai passar a Páscoa com ela. Pelo menos não está completamente só.
Está semana fomos ao pediatra. Foi na 3ª-feira e ela disse que estavas muito bem. Estás a crescer bem, tens uma excelente interacção e parece que já tens sorriso social (mas não ia escrever porque tu eras demasiado novinha para isso - ficámos completamente babados). 
Ontem sentámos-te na tua primeira cadeirinha. Aquela de pano, preta e cinzenta da marca nórdica que aparece nas fotos... Gostaste muito. Estiveste que tempos a olhar para nós, a ouvir-nos e sim, temos a certeza, sorriste para nós! Fizeste alguns sorrisos rasgados e nós adorámos. Tinhas um olhar contentinho e isso deixou-nos felicíssimos!
Também te apresentámos (e baptizámos) o Anselmo, o ratinho de peluche que tínhamos comprado para decorar o teu quarto e lavado. Foi o primeiro brinquedo com o qual interagiste. Não ligaste assim muito, mas ainda assim foi o teu primeiro brinquedo.
Assim é no mundo da Pimentinha. Hoje estou contente e triste. Mas de certeza que amanhã me vais dar muitas mais alegrias (e algumas preocupações)!
Amo-te muito, minha Pimentinha!

quinta-feira, 26 de março de 2015

Nem Tudo São Rosas

Nem tudo são rosas no admirável mundo da Pimentinha sabendo que dele fazem parte o papá e eu.
Hoje tens 3 semanas mais 4 dias e agora já custa um bocadinho menos, mas dói cada vez que te ouvimos chorar. Agora já custa um bocadinho menos porque sabemos que quando choras como se não houvesse amanhã, normalmente tens fome. MUITA FOME! E, como tal, reivindicas, em plenos pulmões, o que é teu por direito: leitinho. E não páras enquanto eu não te dou de mamar.
Mas nem sempre aquele choro que ouvimos é de fome. E nós não sabemos o que é. E não sabemos o que fazer para te consolar. Acho que nem tu sabes. Penso que tu achas que tens fome e choras como se tivesses fome, mas é outra coisa qualquer. E dói não saber o que fazer para te consolar.
Já estive 1h e 30 minutos a dar-te de mamar. Cada vez que te fazia soltar a maminha choravas. Não era fome.
Comecei aos poucos a perceber que parecias indisposta. Deitavas leitinho fora muitas vezes e um dia destes vomitaste mesmo (pela 2ª vez). Púnhamos-te na posição de franguinho assado e continuavas a chorar. Fome não podia ser (tinhas mamado há pouquinho). Seria calor, frio, a fralda suja? Também. 
Comprámos fraldas mais baratas e ficaste com o rabinho assado. Agora apressamos a tirar-te a fraldinha suja. Melhorou um pouquinho. Já não gritas tanto. 
Às vezes acho que tens calor. Puxo as mantas para trás. Às vezes ficas mais calma, outras vezes não.
Às vezes acho que tens sono e por isso ficas rabugenta e choras muito. Choras como se tivesses fome. Quando choras assim não há nada que te console e tenho que te dar maminha. Falta-te aquele aconchego para dormires descansada...
E quando te pomos a arrotar? Também choras. Não gostas daquela posição. Não gostas de ir dormir sem a sensação de barriga cheia, não gostas que interrompa a mamada para arrotar, não gostas de estar tão direita... Não gostas e pronto! 
Durante a noite tens dormido sonos grandes (que bom!), mas antes disso tem sido muito complicado. Mudamos a fralda e choras, mamas e choras, arrotas e choras, mamas, tiro-te da mama e choras, mudamos a fralda e choras, mamas e arrotas e choras e mamas outra vez. Finalmente adormeces. Estás cansada e eu também. Ficamos muito aflitos nestas alturas. Afinal o que se passa? Temos medo que comas demasiado. Temos medo que tenhas fome. Neste processo passaram-se mais de 2h30m e já passámos por muitas sensações. Satisfação, sono, preocupação, agitação, desespero, conformação, calma, satisfação, sono e fatiga. São momentos difíceis, mas o que importa realmente é que fiques bem e acho que ficas. Estou a pensar que guardas reservas para a noite. Talvez seja isso, meu amor. Ontem foi assim, hoje não sei.
Depois de duas semanas em casa o papá teve de ir trabalhar e custou muito. O papá estava triste e eu também. Eu quis ir passear. Com ele, contigo. Quis ir passear para arejar, para aproveitar o sol, para passarmos uma nova experiência em família antes de nós termos de separar do papá por algumas horas por dia. O papá estava demasiado triste e apreensivo. Não queria separar-se nem um milímetro de ti, quanto mais colocar-te no banco de trás do carro. Eu fiquei muito triste, desapontada e chateada. Precisava de ir apanhar ar e sol (o sol dá-nos muitas coisas boas, inclusive alegria), afinal o cocktail de hormonas ainda inunda(va) o meu corpo... Estava principalmente triste por ele. Afinal tinhas-te tornado o centro do nosso mundo (ou melhor, o nosso mundo inteiro) e agora ele ia ter de desviar a sua atenção para o mundo do trabalho.
As rosas têm espinhos, mas os espinhos protegem as rosas dos predadores, das pestes e de seres com más intenções. Nem tudo são rosas, mas cada espinho, cada complicação fazem parte deste mundo, deste caminho que estamos a adorar conhecer e percorrer.
Amo-te, minha Pimentinha!

sábado, 21 de março de 2015

The days of our lifes

Deves estar a perguntar-te "mas o que andou o meu papá a fazer durante estes dias?" ou "porque não escreve ele?" A resposta é simples, estive a amar-te, cuidar-te, mimar-te, admirar-te, beijar-te, abraçar-te, aquecer-te, adormecer-te. E como não tenho o dom da escrita da mamã, tal como não tenho a capacidade de fazer mil e uma coisas em simultâneo como ela, tive de deixar passar estes dias alucinantes (alucinantes, mas no bom sentido) para arranjar tempo e inspiração. Vou passar então a apresentar um resumo de alguns dias que passaram.

DIA 28 FEVEREIRO (o teu dia de nascimento)
No dia 27 eu e a mamã deitámos-nos convencidos que no dia seguinte acordaríamos às 9:00 da manhã, e que iríamos para o hospital calmamente para induzir o teu nascimento. Mas tu trocaste-nos as voltas, tu é que decidiste quando quiseste nascer! E na madrugada de 28 de Fevereiro, pelas 6:00h da manhã a mamã acorda-me a dizer que não dava para esperar pelas 9:00 da manhã. Estava com contracções de 5 em 5 minutos! Eu estava cheio de sono e sem saber as horas, mas depois desta notícia levantei-me da cama como uma mola! Finalmente chegou o momento pelo qual tanto ansiávamos!
Na nossa garagem, entramos no carro e eu citando uma cena de Ted Mosby da sitcom "How I met your mother", exclamei para a mamã: We're having a baby!!!!
Entrámos no hospital perto das 7:30h e fomos para a sala de dilatação/ sala de parto. Eu e a mamã estávamos ansiosos, felizes mas também calmos, estávamos preparados para este dia, preparados para a longa espera, preparados para te receber. Passada a manhã, e um bom bocado da tarde, a enfermeira informa-nos que a mamã está com a dilatação completa e que estás pronta para nascer! Eis que chega o grande momento! Fui para ao pé da mamã, segurei-lhe na nuca para a ajudar a fazer força. A tua mamã foi uma valente, uma guerreira, manteve sempre a calma, fazendo tudo de acordo com as instruções das enfermeiras. E de repente... Saíste tu! Mal te vi, estavas de costinhas, depois as enfermeiras viraram-te e colocaram-te em cima da barriga da mamã. Não choraste desalmadamente, apenas um pequeno gemidozinho, e deitaste pela boca um bocadinho de líquido proveniente do ambiente de onde estavas. Eu estava maravilhado, imediatamente fiquei com os olhos encharcados, troquei um olhar cúmplice com a mamã, estávamos a rebentar de tanta felicidade! Tinha nascido a nossa menina, a nossa Pimentinha!

DIA 9 DE MARÇO
Fomos ao centro de saúde para te pesarmos e medir-te. A enfermeira pediu-nos para te despir completamente, fralda incluída. Eu e a mamã pensámos logo que tu não irias gostar, és muito sensível ao frio e não gostas de estar sem a tua roupinha quentinha. Pesaram-te. Engordaste 260g após uma semana fora do hospital. Estava tudo OK, o leitinho da mamã está a alimentar-te! Como já era esperado, não estavas nada contente com a experiência, choravas, estavas chateada, e com razão. Eu para tentar aquecer-te o mais rápido possível, já que vestir-te ainda demora o seu tempo, abracei-me a ti, segurei-te contra o meu peito... E eis que... Decidiste dar um "presentinho" ao teu papá! Foi camisa,casaco, calças, botas, chão... É assim... Quem te chateia, leva troco! É para aprenderem!

DIA 16 DE MARÇO
Já passaram os 10 dias úteis a que tinha direito para me ausentar no trabalho... Como é possível ter passado tão rápido? O tempo contigo parece sempre pouco, apetece-me estar sempre contigo e com a mamã. Nestes dias começámos a conhecermo-nos mutuamente, eu e a mamã tentamos continuamente perceber o que gostas, o que não gostas, os teus horários de sono, a tua alimentação, a tua higiene, a tua roupa, as fraldas, o que queres dizer com cada tipo de choro. Parece que mudámos um chip nas nossas cabeças, toda a nossa rotina, os nossos hábitos, mudaram naturalmente. Eu, por exemplo, sempre tive grande dificuldade em acordar ao meio da noite seja para o que for. Agora basta ouvir o teu choro e acordo desperto num ápice, pronto para te acalmar e ajudar no que for necessário. 
Ao longo deste tempo tivemos várias visitas, de família, amigos, todos ficam encantados como nós com a tua doçura, a tua beleza, a tua serenidade. Não me canso de olhar para os teus olhos doces, de ouvir os teus gemidos fofinhos, de te ver, sentir, cheirar, acariciar, beijar, amar. És tão fofinha que costumo dizer que rebentas com a escala de fofice!

Não me apetece nada ir trabalhar hoje, estou com o coração apertado, quero estar junto do meu anjinho que és tu. Depois penso naqueles que foram forçados a emigrar e a estar longe dos seus filhotes... Nem consigo imaginar, deve ser uma dor tremenda. Ainda assim eu trabalho a 10 minutos de casa, ao almoço vou voltar a ver-te. Vendo por esta perspectiva, posso dizer que são poucos os que podem fazer isto, e eu posso! Volto a esboçar um sorriso, concluo que afinal não me posso queixar, separo-me de ti, mas a distância é curta, e por pouco tempo. :)

sábado, 14 de março de 2015

2 semanas

Hoje fazes duas semanas, bebé.
Hoje faço duas semanas que sou mamã, mais 41 que sou tua mãe.
Sou mamã que dá mama, que dá atenção, colinho e carinho. Sou mamã que te alivia as cólicas e te olha nos olhos e te dá beijinhos e segura nos braços. Que te dá a mão (ou melhor, o dedo) e põe a mão sobre a cabeça ou barriguinha quando sente que precisas de um aconchego.
Hoje fazemos duas semanas.
Tua mãe sou desde a primeira hora. Carreguei-te, alimentei-te e pari-te. Dei-te do meu sangue e da minha carne. Dei-te música a ouvir e falei contigo. Antes mesmo de conhecer que estavas dentro de mim, já o sabia e já te tentava aquecer. Na semana em que soubemos que havia uma Pimentinha, dei por mim, muitas vezes, a pousar a mão sobre a minha barriga. Quase como faço agora, quando pouso a mão sobre a tua barriga.
Agora estamos a conhecermo-nos melhor. Gostas do quentinho da mamã quando acabas de mamar, mas também gostas muito de ficar deitadinha na tua caminha. Gostas de fazer os teus cocózitos quando acordas. Às vezes, a mamã e o papá tem de ajudar. Temos de fazer massagens e pôr-te na posição de franguinho assado. Deixas logo de chorar e voltas a ter o teu ar calmo e sereno.
 Assustas-te com barulhos pequeno. O vapor do ferro, a porta que se encosta, a avó que mexe no estendal...
Ficas grogue com o leitinho da mamã. Gostas de fazer pausas durante a mamada. É quase como se comesses a sopa, o prato e a sobremesa...
Não gostas de arrotar, mas tem de ser. Aproveito quando estás grogue e deixas cair a cabecita e largas a mamita. Pego em ti e encosto-te ao meu peito. Deixas-te ficar, quase enroladinha e eu tento pôr-te direita (e olha que ainda custa sentar-me direita, amor). De repente arrotas ou tosses ou espirras e lembraste que estavas a mamar e choras e pedes mais maminha. E eu dou. Depois da sobremesa, já não te posso pôr a arrotar, se não ficas rabugenta e já não dormes descansada.
Desde há dois dias que ficas acordada meia hora depois de mamar. Bem disposta e curiosa. Atenta a mim, ao papá, à avó T..
Desde há dois dias que me olhas enquanto mamas. Acho que já sabes que sou eu a tua mamã, sou em quem te dá alimento e quem te dá vida. Vejo nos teus olhos doces amor, curiosidade e confiança.
Há duas semanas que sou a tua mamã e há duas semanas que és a minha bebé. Amo-te meu paxazinho!

quarta-feira, 11 de março de 2015

Ontem, Hoje

Ontem deste-nos uma grande alegria,
Hoje pregaste-nos um grande susto.
Ontem fomos à primeira consulta.
Hoje veio a avó L. cá a casa.
Pesas 3360g e medes 49 cm. Estás a aumentar e a crescer. Já não é preciso acordar-te para mamar. Ficámos tão felizes por ti, amor! Acordar um bebé que dorme placidamente é tortura (para todas as partes envolvidas).  Estás a crescer, bebé. Fico contente. Fico comovida.
Mamavas contentinha o leitinho da mamã, atendemos uma chamada de FaceTime da tia A. e dos primos. Acabaste de mamar, ficaste um bocadinho direita e depois pusemos-te na caminha. De barriga para o ar, cabeça de lado. Ia começar a lanchar e, de repente, ouvi-te fazer aquele som, de quem vai bolsar, de quem se engasgou. Num ápice saltei da cadeira, quando cheguei ao pé de ti já tinhas bolsado um bocadinho e levantei-te as costas, ficaste de lado. No mesmo instante vomitaste o leite que tinhas mamado. Não foi só um bocadinho, foi um jacto de leite quente e branco que inundou a fralda e chegou ao sofá. Respirei fundo. Pus-te na posição de segurança, de barriga para baixo, sobre o meu braço. Ficaste calminha. O susto tinha passado. Eu e o papá ficámos muito preocupados. Só depois de te ver calma e serena é que a mamã teve tempo para ficar apreensiva. Foi só uma má-disposição de bebé que mamou demais ou algo mais? A avó T. dizia uma coisa, a avó L. dizia outra e o papá suspirava. Chorei um bocadinho. Oh, Amor, fiquei tão preocupada... Ligámos para o hospital. Ficámos mais descansados. Não deve ser nada demais. Provavelmente só confusão a mais depois da mamada. Dormiste 2 horitas depois tornaste a pedir leitinho. Finalmente o meu coração sossegou.
Amanhã será um novo dia no Admirável Mundo da Pimentinha.

P.S. Este post foi começado um dia antes da sua publicação.

domingo, 8 de março de 2015

1 week old+1 day

Ontem foi o dia do teu aniversário de uma semana.
Já passámos por tanta coisa juntas! Tantas primeiras vezes! A primeira fralda, o primeiro cocó (o teu e o meu pós-parto), o primeiro banho, o primeiro chichi, a primeira (e as outras) noite quase sem dormir, a primeira cólica, a primeira indecisão...
Ontem fizeste uma semana de vida e caiu-te o que sobrou do cordão umbilical. És tão certinha, meu amor!
Ontem fizeste a mamã passar a noite a dar-te maminha. Estavas a dormir, eu também, mas não largavas nem por nada. Eu deixei. Precisavas de mim e eu dei o mais que pude de mim.
Hoje afastei-me de ti um bocadinho. Fui ao quintal. Fiquei com o coração apertadinho e quando voltei chorei. Como é possível sentirmos tanto a ausência de alguém que está ali tão perto e até à pouco não existia?
Hoje choravas e acabava de te trocar a fralda. Já tinha tirado a mamita para fora e o leite pingava sobre a mesa. Já passámos por tantas 1ªs vezes...
Amo-te Pimentinha e aos teus barulhinhos e guinchinhos e às tuas caretas e às tuas mãozinhas pequeninas e...

sábado, 7 de março de 2015

Já estás cá fora!

Já estás cá fora!
Nasceste com muita calma e muito amor. Foste muito corajosa e vieste ao mundo quando quiseste vir. Quase nem choraste. Só mesmo uma pequena manifestação para nos mostrares que tinhas vindo ao Mundo e que este haveria de conhecer a tua voz.
Vinhas com o cordão enrolado à volta do teu pescocinho e fomos as duas muito corajosas e mostrámos muita força e calma. Pedi a Deus que orientasse a enfermeira-parteira e aguentei. Naquele instante que pareceu uma hora, a enfermeira queixando-se do tamanho dos instrumentos, com movimentos rápidos e seguros cortou o cordão que te cingia o pescocinho. Acreditei em Deus e em pouco tempo estavas livre. A enfermeira mandou puxar mais um pouquinho. Já estavas cá fora!
Não te consigo dizer o que senti, porque nem sei bem o que foi. Estava feliz mas incrédula, contente mas cansada, cheia de fé no Mundo mas preocupada e padeci de mais um sem-número de sensações que me inundaram naquele momento em que te retiraram de dentro de mim e te pousaram em cima da minha barriga agora disforme. Bastaram poucos segundos para te levarem para ali ao lado para te ajudarem a respirar e te limparem a pele suja, molhada e coberta de fluídos. Sofri, logo ali. Queria-te tanto pousada sobre o meu peito a cheirar o meu suor... Mal choravas e eu, aberta e mal-tratada, não queria saber de mim. Olhei-te com dor e amor e esperei. [Agora mesmo bolsaste. Ficaste aflitita com o leite que era a mais e deitaste-o fora. Eu engoli a minha aflição e fiz o que me ensinaram. Limpei-te a cara, pus-te de lado, levantei-te as pernas. Respirei fundo. A tua respiração ainda não estava lisinha, havia qualquer coisa a obstrui-la. Peguei-te de barriga para baixo e levantei novamente as tuas pernas. Fizeste beicinho e aquele guinchinho que me faz crer que estás bem, deitei-te e fiquei descansada. Está quase na hora de mamares novamente.]
A enfermeira mais velha de cabelo curto tratava de ti. Levou-te a balança e chamou o papá. 3,350kg.  "Decore papá". O papá tirou uma foto. Ficou registado. Vestiu-te e aqueceu-te. Eu olhava-te esquecida de mim. Abstraía-me do que me faziam, do estado em que estava. Puseram-te ao colo do papá e eu descansei um pouquinho.
As enfermeiras empurravam-me e espremiam-me a barriga, puxavam e ajudavam-me a expulsar o que havia para expulsar. O parto é um momento mágico e milagroso, mas sujo e nojento. Puseram a placenta sobre a mesa de apoio. 550g. Parece q está tudo bem. Disseram. Saiu tudo o q era preciso sair.
A enfermeira-parteira, cosia o que havia para coser e ainda perguntei, rasgou? "Não, eu é que cortei". Eu disse qualquer coisa sobre o facto de estar a demorar algum tempo e ela afirmou que demora o seu tempo. Eu sorri e disse "claro, o que importa é que fique bem feito". Olhei-te novamente, ao colinho do papá que estava feliz, apaixonado e derretido. E eu, feliz, apaixonada e derretida.
As enfermeiras limpavam o que havia para limpar e eu esperava, com dor e amor, pelo momento em que te pusessem novamente nos meus braços.
Mudaram-me de cama e trouxeram-te para junto de mim. Chegou a hora. Estavas nos meus braços e eu feliz, apaixonada e derretida. Perguntaram-me se tencionava dar de mamar. Assenti. Sempre supus ser esse o meu destino,  dar alimento ao meu bebé. Minha mãe deu-me mama até aos 2 anos e minha avó aos filhos dela e aos das outras. Destapei a maminha, puseram-te ao meu peito, agarraste logo. Começaste logo a mamar como quem sabe o que quer e como fazer para o conseguir. As enfermeiras exclamaram: este bebé sabe exactamente o que fazer, outros, contudo, coitadinhos, precisam de tanta ajuda! Vieram-me as lágrimas aos olhos. Fiquei tão feliz por ti, por nós! O papá abraçava-nos feliz, apaixonado e derretido. E eu, feliz, apaixonada e derretida. Estavas cá fora.
Disseram-nos que o papá só podia ficar mais um bocadinho e ele ficou um pouquinho triste, com o coração apertadinho. As enfermeiras esticaram o tempo um pouquinho, foram amigas. Mas mesmo assim, logo chegou a altura do papá sair. Foi para casa um pouquinho triste e já cheio de saudades.
Levaram-me para o outro quarto, grande, com meia dúzia de camas. Puseram-me gelo sobre a barriga e no corte. Pedi água. Disseram-me, ainda não. Tu mamavas ainda. Mamaste muito tempo.  Mais de uma hora. Primeiro de um lado e depois do outro. Estavas cá fora e tinhas fome de vida. Olhava-te feliz, apaixonada e derretida. Vi nas tuas caretas traços do meu pai. Emocionei-me e chorei um pouquinho. Estava feliz, apaixonada e derretida. Estavas cá fora.
Vinham-nos ver de vez em quando. Trouxeram-me comida e bebida. Tiraram-te de ao pé de mim e pousaram-te num berço. Fiquei um pouquinho triste, mas tinha de ser. Bebi um ice tea, que me soube pela vida. Comi a sopa, pão, arroz e couve-flor. A carne não. Parecia frango. Já me conheces.

Obrigada senhoras enfermeiras. Não há palavra mais forte no mundo para vos deixar. Obrigada do fundo do meu coração, do mais profundo do meu ser.

Esperei um pouco e depois vieram-nos buscar. Puseram-te novamente nos meus braços. Abracei-te. Estavas cá fora, eras minha. Levaram-nos pelos corredores do hospital, subimos de elevador. Piscavas os olhinhos e fazias caretas enquanto passávamos pelas luzes dos corredores. Abracei-te tive medo que tivesses frio e te assustasses.
Quarto 204, cama 10. Foi aqui que ficámos enquanto estivemos no hospital. A enfermeira de olhos claros e de quem gostámos muito veio ter connosco. Jovial, doce e segura, fez-me as perguntas da praxe. Respondi e perguntei se podia ir à casa-de-banho. Ainda não daqui a pouco. Chegada a altura disse-me que me podia levantar e a outra enfermeira, mais baixinha e com uma pronúncia característica, aquela que nos levou a conhecer o hospital, veio ajudar-me. Perguntaram se me sentia bem. Disse que sim. Explicou-me como havia de fazer. Primeiro chichi aqui, depois água fria acolá.
Estava na hora de mamares novamente. As nossas malas ainda não estavam cá em cima (o papá tinha-se atrasado e agora as auxiliares). A enfermeira trouxe-nos fraldas e algodão. Mostrou-me como te mudar. Já tinhas feito uma cocozada.  Fiquei contente. Mudei a tua primeira fralda. Já estás cá fora! Não me atrapalhei nada. Mamaste novamente. E dormimos as duas um pouquinho, aos pouquinhos.
Estás cá fora, e eu, feliz, apaixonada e derretida.